Os imbecis da internet, fala proferida pelo nosso Ministro, de cabeça lustrosa e brilhante, Alexandre do Supremo, naquele evento da Magistratura ocorrido em um Resort de luxo na Bahia, neste final de semana, perturbou meu sono.
Não só pelas imagens, que escancaram o que já era óbvio, onde nosso todo poderoso Ministro posou para foto ao lado do protótipo de ditador Rui Costa governador da Bahia. Tampouco pela virulência da sua fala. Mas, principalmente, pela resposta que não foi dada de bate-pronto por qualquer um dos convivas.
Sonhei em poder ter falado logo após o nosso Calvo Ministro. Sonho ridículo é claro, dada minha insignificância, mas, o sonho é meu e, eu me coloco onde eu quiser.
Dado o impossível deste sonhe, registro, neste breve escrito, a resposta que entendo, seria adequada aquela inoportuna colocação.
Boa noite senhoras e senhores, boa noite meu caro Ministro Alexandre de Moraes. Tinha pensado em dar outro rumo a minha fala, mas ante a sua exposição, fiquei tentado a pegar uma carona na fala de um dos próceres da Justiça Brasileira.
Permita-me, caro Ministro, com a devida vênia, contestar ou até discordar daquilo que Vossa Senhoria falou há pouco. Não creio estar cometendo nenhum crime de opinião, pois o debate e o discordar, de forma civilizada e republicana, fazem parte da democracia
Portanto, apelando ao Vosso espírito democrático anteponho-me a sua fala. Quando o Senhor parafraseia o escritor Umberto Eco, renomado e talentoso intelectual italiano, nos afirmando que a internet deu voz aos imbecis, eu Vos digo: Graças a Deus!
A internet deu voz aos imbecis, a internet e as redes sociais trouxeram de volta ao debate democrático todos aqueles que dele estavam excluídos. Permitindo que pessoas, indivíduos e grupos expressassem suas opiniões, certas ou erradas, verdadeiras, enganadas, enganosas e mentirosas mas, suas opiniões.
Ah! Mas os imbecis nos trazem as Fake News. Trazem?! Fake News, pós-verdades e a mentira fazem parte da natureza humana e, não são, de forma nenhuma, uma exclusividade dos imbecis. Não são exclusividade daqueles que vem do povo.
Estes imbecis, segundo Vossa “sábia” e, isenta de preconceito ideológico, colocação que hora tomam conta dos nossos espaços sociais virtuais, são o povo, aquele mesmo povo que o Senhor deveria servir e, nele incluir-se.
A mentira, a enganação e a empulhação fazem parte do rol de táticas da política, da intelectualidade, dos interesses ilegítimos e escusos, que há muitos séculos fazem parte da civilização humana.
O que diferencia um imbecil com diploma e opinião isenta, do imbecil que trabalha de sol a sol e quer simplesmente ter sua voz ouvida? Nada? Por que, então o preconceito?
O fenômeno das redes sociais, da internet trouxe-nos aquilo que Pierre Levy chama de Cibercultura, a sociedade em rede. Uma sociedade em que muitas vezes a informação, o pensamento humano e a opinião, já não estão mais só na cabeça do indivíduo, mas, sim naquela rede neural e lógica, por onde circula o cotidiano deste indivíduo. E, esse fluxo de informações, de opiniões e verdades por óbvio capacita qualquer pessoa, da mais simples, a mais intelectualizada, a participarem de rodas de debate, de receberem informações e opinarem.
Como nos esclarece Maffezoli, o homem é um ser tribal, reúne-se em tribos e, parece-nos de uma obviedade ululante, que estas pessoas vão a buscar, através da facilidade dessas redes, aqueles grupos que emitissem opiniões semelhantes ou coadjuvantes com as suas.
O que tínhamos antes era um pequeno grupo de detentores da verdade. Na antiguidade, os Nobres, os Reis e as classes sacerdotais detinham este “direito”. Depois veio o domínio da nova burguesia “iluminada-iluminista”, seguido pela racionalidade e cientificidade, entre aspas.
Nos tempos contemporâneos, passado recente, o monopólio da informação se deu por um grupo de matriz política e intelectual, de viés progressista, que dominava os meios de informação, a imprensa e a produção do conhecimento da informação.
Estes meios passaram a ser monopólio de poucos, com voz muito alta, até então. Alguns destes, não muitos, s pessoas de elevado espírito cívico e moral. Outros, muitos destes, nem tanto, podemos dizer, desprovidos de qualquer moral ou espírito cívico. Entre estes poucos escolhidos encontrávamos, sim, alguns homens e mulheres de alto padrão intelectual e, outros tantos, papagaio, que só sabem repetir chavões.
Por óbvio, neste grupo seleto de escolhidos, tínhamos uma miríade de imbecis, úteis, inúteis e aproveitadores. Não foi a internet que criou os imbecis, não foi a internet que deu voz aos imbecis, muitos deles já tinham voz.
O que a internet fez foi democratizar este espaço. E, por mais que critiquemos e tentemos censurar a irreversível tendência da criação e da manutenção destes espaços de discussão democrática e ampla.
Antigamente, não tão antigamente assim, o homem comum, o trabalhador não tinha tempo, condição ou dinheiro para envolver-se em debates. Trabalhava de sol-a-sol para o seu sustento e, ao chegar em casa, recebia o pacote de informações digeridas de forma muito conveniente aos interesses daqueles que informavam.
O advento das redes sociais e da internet permitiu que este homem comum acessasse livremente a informação e, percebesse que esta informação tem, quase sempre, dois ou mais lados diferentes. Como nos disse Maturana, a observação, da qual decorre a informação, passa pelos olhos do observador e, obviamente, por seus interesses, suas ideologias e por suas vontades. Ao retirarmos este filtro ou, ao permitirmos que o homem comum do povo possa buscar e confrontar informações diferentes, permitimos que ele formule suas próprias opiniões. E, aí meus caros, ele não precisa mais das informações mastigadas pelo comentarista do jornal das oito horas.
O homem do povo, passa a poder buscar grupos ou fontes de informação, que reforçam ou confirmem o seu pensamento, reforcem suas ideologias, suas crenças e seus valores morais.
A internet e as redes sociais, permitiram que muitos dos que estavam alijados do debate cotidiano da política, dos costumes e da “evolução” da sociedade humana, especialmente, entre os conservadores encontrassem nestas, um espaço onde, não só, puderam perceber que não estavam tão isolados assim.
O homem do povo não percebeu que não era aquele troglodita, que vivia no século passado, com ideias ultrapassadas, mas, que também suas ideias, crenças e valores eram compartilhados por milhares de outros homens comuns. Aí temos o reforço do grupo e, as redes sociais permitem que estes grupos, estas tribos se constituam e tragam um fluxo de debate de opiniões, diferente daquelas opiniões oficiais e oficiosas de outrora.
Por isso, o reacionarismo daqueles que perderam o protagonismo de informar, de formar opiniões.
O imbecil, que o senhor se refere, potencializado pelas redes sociais e pela internet constitui-se como um novo livre pensador. E, percebeu, ainda, que ele tem liberdade, sim, de frequentar grupos de pensamento antagônico, buscar aquele que mais lhe aprouver naquele momento e, mudar de opinião, tranquilamente.
O homem comum não é mais um escravo da opinião alheia, por isso o espaço da internet é um espaço democrático e, o pensamento de Mark Prensk, sobre os nativos digitais, soa tranquilizador, pois, traz a visão de que por mais esforço regulatório que se faça, não há como antepor-se a esta modernidade.
Vem ao pensamento, deste pobre escrevinhador, a recordação de que nossa política e democracia é, originalmente, grega. Podemos imaginar trazer aos dias de hoje um daqueles patrícios gregos, que discutia política e a administração pública na ágora da acrópole. Se o levássemos à Câmara dos deputados ou ao Senado Federal do Brasil ou de qualquer país democrático, desconsideradas as barreiras do tempo, creio, que seria impossível a ele reconhecer, naquele ambiente, a democracia grega tão propalada.
Nossas ágoras modernas, nossos templos da democracia, pareceriam algo inusitado aos pais criadores da democracia, não lhes seriam, de forma nenhuma, familiares e, veríamos desmoronar nosso baluarte da democracia, ante ao estupefaciamento de nosso visitante.
Mas, também, se vencidas as barreiras do tempo, deixássemos o nosso milenar, visitante acessar as redes sociais e a internet, pasmem ali, naquele caos reinante, provavelmente, ele encontraria similaridades com a sua ágora histórica.
Os gregos tinham um termo, idhios, que indicava aquele cidadão que, embora habilitado, não exercia a política. Mais tarde o termo passou a ser aplicado ao cidadão que não exercia o serviço público. DSeste termo, idhios, originou-se a palavra idiota. Então os idiotas, para os gregos, eram aqueles que não faziam política e não eram servidores públicos.
Eu posso afirmar que sou parcialmente idiota, pois sendo o servidor público, por questões éticas não faço política. Esta deveria ser a postura de todos os servidores públicos brasileiros, principalmente, os magistrados, pois, a eles fazer política é proibido pela Carta Magna.
Claro que, a grande maioria dos brasileiros, não só não fazia política, como não é servidor público. São os idiotas, na acepção grega da palavra, que o Senhor se refere.
E, onde estes idiotas encontram voz? Na liberdade da internet, meu caro Ministro. Novamente, com sua vênia, contraponho-me a sua fala, pois, as redes sociais da internet não deram voz apenas aos imbecis, deram voz aos intelectuais, aos homens de espírito elevado que, também, não tinham voz. Junto com eles há, sim, um grupo de imbecis.
A internet deu voz a todos, ao homem comum, ao intelectual, ao pai de família e ao imbecil. Mas, democraticamente, as redes sociais e a internet concederam voz a esta miríade de pessoas que estavam emudecidas no seio de nossa sociedade, sem, de forma alguma, retirar a voz daqueles que a detinham anteriormente.
Os aristocratas, os intelectuais, os políticos, dos homens de espírito elevado e com o espírito rebaixado dos interesseiros e os milhares de imbecis que por qualquer razão faziam uso daqueles espaços, não perderam sua voz.
Então a internet democratizou o acesso a um lugar de fala, a um lugar de opinião, para todos os cidadãos brasileiros, deu voz a todos, independente de cor, raça, credo ou ideologia.
Portanto na internet, nas redes sociais, todos os homens e mulheres desta nação, sejam pobres “imbecis” trabalhadores ou ilustres iluminados como Vossa Excelência, têm o mesmo espaço de fala.
Portanto, caro Ministro, ao parafrasear, em sua fala, o pensamento de Umberto Eco, Vossa Senhoria, não me denegriu, não me envergonhou, apenas mostrou a todos, aquilo que já nos era óbvio, como pensam os ilustres condutores de rumos de nosso Brasil.
Mas, agradeço a sua vênia e paciência, com este escrevinhador. Encerro, dizendo-lhe Ministro, que sou um imbecil com muito orgulho!
E, que as redes sociais e internet, serão minha voz e, a minha voz ecoará como um grito ensurdecedor nos ouvidos daqueles que se julgam superiores ao povo!