terça-feira, 28 de julho de 2020

Leituras





Sempre fui um leitor compulsivo. O mundo do livro me encanta, me faz sonhar e viajar. Leio qualquer coisa, poesia em parede de banheiro, jornal velho, bula de remédio, mas os livros...Ah! Os livros são meu xodó.
Tempos modernos e as demandas diárias do trabalho fazem com que tenha de ler cada vez mais na tela de computadores, tablets e celulares. Coisa mais sem graça e já está afetando minha visão ou será a idade? Talvez ambos.
Mas a necessária ‘leitura eletrônica’, cada dia mais comum não substitui um bom livro.
Gosto de livros, coleciono livros, ouso dizer que sou um bibliófilo, possuir livros me ‘da um prazer quase inigualável, só superado pelo prazer de possuir uma linda mulher (quando jovem e solteiro, registre-se e ressalte-se. Sempre é bom frisar isto, vá que a patroa resolva ler esta coluna).
Tenho muitos livros e ainda assim acho poucos. Mas paixão é isto, é inexplicável. Tão inexplicável e inebriante como o cheiro e o farfalhar das páginas de um livro novinho em folha.
Este som e cheiro só podem ser comparados em minhas memórias ao cheiro forte da saudade que emana junto ao som úmido das folhas de um velho e usado livro, com suas páginas repletas de ideias e ideais.
Livros são companheiros de jornada, de viagens e de aventura e um ótimo antídoto contra chatos, burros, medíocres e esquerdistas em geral.
Ler nos permite conhecer mundos, é alimento a alma, é a liberdade do espírito. Lei, como disse de tudo, sou rato de livrarias, visitante frequente e costumaz de feiras de livros. Não raro viajo para visitar cidades durante feiras de livros e aproveito para conhece-las ou revê-las (as cidades em questão, já que o motivo da viagem são os livros).
Mas de tudo que leio tenho preferências: história das religiões, mitologia, filosofia medieval, literatura sobre comida e viagens, literatura escoteira e, para relaxar a mente, gosto de literatura infanto-juvenil e de besteirol. Coisas para ler sem compromisso, tipo Harry Potter e os livros (excelentes, por sinal) de Rick Riordan.
Só jogar conversa fora, beber vinhos e viajar superam minha tara por livros (tirei mulheres da lista, pois estas representam um vício incurável. Espero sinceramente que a patroa não leia este livro. Mas tenha certeza amor, estou bem comportadinho).
Mas veio este desgraçado deste vírus chinês. Desculpem! Esqueci que não pode dizer que um vírus que veio da China Comunista, provavelmente fruto de uma cagada da ditadura comunista do país. Não pode ser chamado de vírus chinês, muito menos de vírus comunista (em defesa do vírus, já observamos que a letalidade do COVID é muito menor do que a letalidade dos regimes comunistas). Mas veio o vírus comunista chinês, a tal da besteira do lockdown e, pronto eu em casa sem ter muito para fazer e sem ter o que ler (minha memória fotográfica já foi melhor, mas ainda consigo recordar quase tudo que leio, o que torna as vezes entediante uma releitura). 
Fiquei sem novos companheiros de jornada porque não há novas edições a disposição, não vem às livrarias novos livros. Não encontro nada interessante que não tenha lido, nem em português, nem em inglês, espanhol ou, até em francês ou italiano, idiomas que me aventuro a ler. Sei estou ficando um chato de galochas. Mas parte é depressão destes tempos idiotizados que vivemos.
Mas eis que, do nordeste do Brasil, do bagaço surge uma salvação e hoje, dia frio, modorrento de inverno aqui no sul. Dia em que convalesço em casa, acometido de cólicas renais, a dois dias. Chegam para meu júbilo duas encomendas. Uma que fiz na Editora Bagaço buscando conhecer a obra de nosso Mestre Berto. E, outra oriunda dele mesmo o Mestre Berto me presenteando com sua obra autografada. Tenha certeza que terá lugar de honra em minha humilde biblioteca meu irmão.
Berto quem presenteia livros, dá ao presenteado, parte de sua alma e de seu coração. Ainda mais quando presenteias uma obra original e genial como a tua.
Muito Obrigado mesmo! De coração. Espero um dia poder retribuir-te com algo de minha humilde lavra.
Anexo uma foto do avô babão, de pijamas, na frente da lareira, recuperando-se das malditas pedras expelidas, com meu neto e os livros chegados 21 dias após sua postagem (sinal de que as distâncias no Brasil são grandes e a incompetência dos Correios também).
Agora vou ter o que ler. A quarentena parecerá mais leve.
Obrigado!


PS: Da alegria da chegada dos livros à uma última homenagem. Fiquei sabendo agora do passamento do Dr. Carlos Prentice. Peruano, Professor, Cientista e Engenheiro foi meu orientador de mestrado e, mais que um orientador fui um grande amigo, conselheiro fiel, dono de uma conversa inteligente e de uma alma contagiante, um Grande Mestre na acepção da palavra. Descanse em paz Irmão, que o Grande Arquiteto te ilumine e acolha na sua Oficina.

domingo, 12 de julho de 2020

A UNIVERSIDADE PÚBLICA É O LIXO DA POLÍTICA – PARTE IV




            Continuando minhas reflexões a cerca da política suja que se faz dentro das Universidades Públicas brasileiras e, que é reflexo ou é refletida (creio que um pouco dos dois) na sociedade brasileira, especialmente nos nichos mais elitizados e/ou pseudo-intelctualizados, trago estas últimas reflexões.
Agora vejo, mesmo depois de 4 colunas escritas, que há muito mais o que falar. Na condição de docente são mais de 25 anos neste meio, mais o período de aluno, vi, presenciei e ouvi muita coisa. E, mea culpa, calei-me e fiquei indiferente para muito também.
Creio que também não posso ser apenas crítico. A crítica pela crítica é apenas o resultado de uma observação covarde e/ou rancorosa. Homens de verdade devem ser críticos e reflexivos, mas também devem ser, obrigatoriamente, propositivos. Portanto a partir da próxima quarta farei uma ou duas colunas com a minha reles opinião sobre o que precisaríamos fazer para mudar. Hoje nesta coluna final farei algumas ponderações e apontamentos pontuais, algumas vezes sem aprofundar discussões pois isto demandaria muita escrita, mas tenham certeza que foi tudo muito refletido.
Como já lhes afirmei a ‘endogamia acadêmica’ é um problema sério nas Universidades, pois faz com que apenas aqueles com pensamentos e ideologias semelhantes ao status quo dominante consigam vagas na academia. E aí desaparece qualquer possibilidade de embate de ideias, de mudança de paradigmas e de avanços. Os departamentos passam a ser ninhos de um pensamento doutrinário e centralizado e passam a ser reacionários a qualquer mudança, mesmo e, principalmente, quando esta vem de fora, do mercado e, aponta a necessidade de adequações e ajustes que desacomodam seus membros.
Também este fato de que o privilégio formativo, ou seja, ser bolsista do mesmo departamento ou professor da iniciação científica (na graduação) ao pós-doutorado, faz com que este novo professor seja bom escritor científico, cheio de publicações (o que segunda a CAPES faz dele um cientista, mesmo que jamais produza uma patente) e operador competente de rotinas de pesquisa e laboratório. Mas nunca teve uma experiência no mercado de trabalho, nunca esteve em um chão de fábrica.
Daí é fácil achar que o mercado é perverso, que o capitalismo é selvagem. Alguém que não conhece a realidade do mercado, da indústria e que recebe seu sustento, regiamente pago, pelo Estado pode tecer críticas e posicionar-se contra aquilo que desconhece a produção privada. O problema é que este indivíduo que nunca esteve em uma fábrica e só visitou uma obra no estágio é quem vai formar nossos futuros profissionais técnicos e engenheiros. 
O professor que só vai em escola pública em época de campanha eleitoral pedir voto para os ‘companheiros’ do partido, nunca põe o pé no barro e discute educação brasileira em congressos no exterior ou em hotéis na praia. Isto é claro, depois de 12 ou 15 anos, como bolsista, na Universidade, sendo bombardeado por Paulo Freire e outras pragas. Que a única coisa que fez além disto foram manifestações, invasões, protestos e quebra-quebra ao estilo blackblocks, sempre protegido pelo ‘direito’ de protestar, segundo eles e seus mentores, contra o fascismo e pela democracia (o conceito de democracia destas criaturas é muito diferente do meu, graças a Deus). Este indivíduo, depois de tudo isto, desta vasta experiência, é quem vai, sem nuca ter alfabetizado alguém, é quem vai formar os professores de nossos filhos e netos. Só podia dar em merda!
E, quem já participou de uma banca de concurso público sabe, há muita ‘discricionariedade’ nestes concursos, portanto se ninguém parar os pés dá para manipular. Até porque o candidato preferido tem ótimo currículo vitae só não teve experiências de vida, mas para que ter experiências? A Universidade lhe ensinou tudo o que precisa para viver na bolha. 
Este sistema também facilita aos que tem ‘oportunidades’, os famosos filhos de alguém, que por competência própria ou dos pais acabam entrando no ciclo das bolsas e daí seguem para a almejada e comemorada vaga de professor, consolidando autênticas dinastias.
Outra coisa preocupante é a DE, Dedicação Exclusiva, que é a remuneração para que o professor não tenha nenhuma outra atividade e dedique-se apenas à Universidade. Antigamente os professores faziam concursos sem DE e tinha de apresentar, periodicamente, um plano de trabalho. Depois os concursos passaram a ser já com a previsão de DE. Mais recentemente os concursos voltaram a ser sem DE, mas a pedido a mesma é concedida no momento do ingresso.
Vejam bem a DE, nas IFES (Instituições Federais de Ensino) representa cerca de 160% sobre o salário, sem a DE nossos vencimentos não seriam tão atrativos. Isto compele todos, ou praticamente todos os professores a solicitarem DE. Também tenho DE e não me considero demagogo. Procuro prestar consultoria através de projetos de extensão para agricultores familiares e pequenas indústrias, sem custo, isto me mantém próximo do mercado e sociedade. Também realizo, as minhas expensas, visitas técnicas em indústrias e na área produtiva com frequência.
Esta é uma realidade, que ainda bem, se reflete bastante na área agrária e de engenharias. Na medicina, odontologia e direito a DE não é tão frequente, mas os números vêm crescendo. Mas na área de humanas, onde é quase de 100%, a ojeriza ao mercado faz com os professores se isolem na bolha.
O que fazer, um pitaco apenas. Incorpore-se as DE’s (não pode, por lei, haver redução salarial), libere-se os professores ao mercado, cobre-se rigidamente o cumprimento dos compromissos na Universidade. E, conceda-se DE apenas aqueles bem mais antigos (Titulares p.e.), com produção relevante e sob condicionantes, como por exemplo, não poderem fazer greve. A DE pode ser também temporária e com a renovação condicionada a planos de trabalhos apresentados periodicamente e de interesse público.
Também pode-se liberar e incentivar a contratação de professores de tempo parcial, isto também abriria campo de trabalho, através destes professores já inseridos, para os alunos.
A questão da DE gera outro problema, a burla. Como era muito difícil dar em alguma coisa muitos professores tocam, mais ou menos disfarçadamente, outros negócios. Felizmente nos últimos 3 anos (de forma mais frequente) isto começou a mudar e quem burla a DE tem sido submetido as punições da lei.
Também podemos citar rapidamente a autonomia que as IFES têm para criar cursos, da livre vontade de seus professores e dirigentes. Sem nenhuma demanda da sociedade ou expectativa de empregos, criados a partir do desejo ou da pesquisa de pós-graduação de um professor. Presenciei a criação em uma Universidade, do Curso de graduação em Dança-Teatro, não é dança nem teatro, estes cursos já existiam. Dois professores voltaram do pós no exterior, brigaram com os demais e criaram seu próprio curso (tive de procurar no google para descobri o que é), tiveram vagas para professores, investimento de capital, material. Só não tiveram alunos.
Por que as IFES não podem se submeter a uma análise do MEC para criar seus cursos como as privadas têm de se submeter? Garanto que economizaríamos muito dinheiro.
Por último três pontos, apenas citados para reflexão: os Conselhos Superiores, as lideranças estudantis e os nichos de resistência política.
Os conselhos universitários são compostos majoritariamente por professores, servidores técnicos e alunos das IFES. Os representantes da Comunidade são poucos em geral de 2 a 5 e nomeados pela conveniência do Reitor que os convida ou indica (no caso de representante do MEC) entre seus pares políticos ou conhecidos. Nas Universidades são 70% de docentes e 30% do resto da comunidade. Nos Institutos Federais é pior pois a representação é paritária (1/3 professores, 1/3 técnicos e 1/3 alunos). Um verdadeiro absurdo que os alunos tenham o mesmo peso de professores, basta refletir que um indivíduo em formação e imatura tenha poder de influenciar a escola que forma. É surreal!
Mas, em suma, o que destaco aqui é o fato de que a sociedade, o mercado, o povo, a origem e destino dos alunos e dos futuros profissionais que dali egressarão. E, ao fim e ao cabo, para quem a Universidade deve destinar seu trabalho, pois é quem paga a enorme conta, não tem representação nos “Egrégios” Conselhos que as administram.
As representações estudantis são o que todos sabem. Nicho disputados por partidos de esquerda. Massa de manobra para apoiar protesto invasões, depredação do patrimônio e formação de militância. Além, é claro de espaço livre para maconha, outras drogas, sexo, suruba e putaria. Corrupção pode entrar no rol basta lembrarmos da CPI da UNE que nunca sai do papel e que deveria apurar os desvios da UNE no dinheiro público que receberam. 
Temos a ex-presidente da UNE Marianna Dias que não era mais estudante. Marianna passou no vestibular da Universidade Estadual da Bahia no segundo semestre de 2009 e desligou-se do curso no segundo semestre de 2015, sem concluí-lo (6 anos e não concluiu um curso de 4 anos).
E, se quiserem ter uma noção do que é a política estudantil nas Universidades Públicas vou citar apenas 3 ex-presidentes da UNE, que também estão inscritos na bela lista de apelidos da Odebrecht: José Serra, Lindembergh Farias (que não concluiu a graduação já que virou político do PT) e Orlando Silva. Preciso dizer mais?
Por último “Vossas Magnificências”, como pregava o protocolo de tratamento, suspenso por decreto do presidente Bolsonaro (ainda bem), Vossas Excrecências, quero dizer, magnificências, são os Reitores. Os Reitores eleitos e aboletados em seus cargos, apoiados por um grupo de frente, bem pago pelo erário, de interesseiros e representando interesses, quase sempre, político partidários.
Os Reitores, nesta sistemática, se encastelam nas Reitorias e defendem seus interesses e de seus patrocinadores. E qual é atônica disto. Defender os interesses do Grupo e que se foda a sociedade. Duvidam? Reflitam que as Reitorias da Universidade são os loci de resistência a políticas públicas amplamente debatidas pela sociedade e descritas na forma de lei como: as BNCC, o novo ensino médio ou os novos currículos de licenciaturas. Não importa se é bom para a sociedade, apenas importa é que politicamente são contra e usam para isto o argumento da autonomia universitária (outro ente teratológico criado por nossa constituição, que discutirei em outro post).
Novamente, duvidam? Busquem saber quantas aulas e atividades as Universidades Públicas e Institutos Federais próximos de vocês estão ministrando na pandemia. Verão que, com raras exceções, não há nenhuma atividade. Também questionem o que de relevante estão fazendo (fora os Hospitais Universitários, que não são administrados pelas Universidades e, sim, pela EBERSEH – MEC) na pandemia. Provavelmente produzindo alguns litros de álcool gel, fazendo algumas pesquisas científicas, a maioria para reforçar o pandemônio e o obituário. E, é claro, reforçar o discurso dos ‘terra-paradistas’, do ‘fique em casa’. Há louváveis exceções, sim, mas são minoria. Uma minoria que merece parabéns. Mas o que fazem nossas casas da ciência neste momento? Proselitismo político, na maioria das vezes.
Por isso urgem mudanças, ou vamos ficar patinando ad eternum, vou na próxima semana dar pitacos, sob o que minha vivência indica serem caminhos.
Mas reitero temos que mudar e, muito, nossa Universidade Pública para que deixe de ser: O LIXO DA POLÍTICA BRASILEIRA.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

A UNIVERSIDADE PÚBLICA É O LIXO DA POLÍTICA – PARTE III





Levei um puxão de orelhas didático dos colegas Professores Maurício Assuero e Arael por algumas imprecisões. Mas vejam que os dois primeiros textos, conforme comentei são republicações de 2017, quando ainda vivíamos sob o desgoverno Dilma Roussef.
Quase tudo que está ali ainda é válido e, sim, as Universidades Públicas são um antro das esquerdas reacionárias (hoje muito reacionárias e, antes de me criticar dizendo que reacionária é a direita, procurem no dicionário o significado da palavra), são um local de extremo compadrio e são locus de política, quase sempre suja, e muita politicagem.
Houve avanços a partir da chegada de Temer ao Governo e tentativas, quase sempre boicotadas por todos os atores com poder para isso (STF e Congresso), do Governo Bolsonaro.
Mas a bem da verdade cabem alguns esclarecimentos. As Universidades e Institutos Federais não podem estipular os salários de seus professores e servidores estes são estatutários e regidos pelo RJU. Já algumas Universidade Públicas Estaduais podem e definem, dentro de limites seus salários.
Esta autonomia é muito forte nas Universidades Paulistas (USP, UNESP e UNICAMP) onde os Conselheiros eleitos pelos servidores e, eles mesmos servidores, ganham remuneração o jeton para participar dos Conselhos, onde se decidem toda a vida universitária, inclusive salário. Lembrem das manchetes em 2014/2015 a USP gastava 105% de seu orçamento em salários. De lá para cá não melhorou muito e o gasto gira em torno de 85% do orçamento.
Nas Federais a folha pertence ao rombo do Governo Federal e orçamento é apenas para despesas de custeio e capital, mas se incorporarmos a folha no orçamento das IFES (Instituições Federais de Ensino), as despesas de pessoal vão beirar 80%.
Melhorou muito a democratização e a distribuição de verbas a partir de 2017, com a necessidade de editais para distribuir verbas e bolsas de pesquisa e extensão. Mas reitores e diretores ainda podem direcionar obras e projetos para seus grupos políticos.
Ainda temos as bolsas, cabem ressaltar que hoje a maioria exige editais de seleção, mas há diversas bolsas que ainda podem, ou mesmo sem poder, são distribuídas ao bel-prazer do gestor. Bolsas para EAD (embora as IFES, na pandemia, não estejam fazendo aulas EAD porque (sic) não tem estrutura ou professores preparados. Lembro-me em 2016 o tal do PRONATEC, aquele da Dona Dilma, um pró-reitor tinha o controle de 16 bolsas de R$ 4500,00 (e bolsas não tem desconto) de Coordenação, todas regiamente distribuídas de forma democrática entre seus apoiadores, casualmente com a mesma filiação partidária.
Isto ainda bem acabou. Mas ainda temos os Cargos Comissionados, são muitos e com valores altos. As Universidades e Institutos Federais (IF’S) receberam muitíssimos nos anos 2010 a 2012. Viraram cabides de emprego. Aquilo que antes funcionava com um Chefe e um ou dois ajudantes hoje só funciona com 5 ou 6 chefes, assessores e ajudantes dos ajudantes.
Nos IF’s a coisa ainda é mais grandiosa pois se nas Universidades Federais um Diretor ou pró-reitor recebe CD-3 (bruto aproximadamente R$ 4800,00) nos IF’s recebe uma CD2 (bruto R$ 5600,00) e são centenas. Considerem que os estados têm pelo menos 20 Campi de IF (a maioria tem mais de 60 Campi) e que cada Campi tem uma CD2 e outra tantas CD’s façam a conta do gasto. Cidades minúsculas com Campus com 600 alunos tem 4 ou 5 CD’s. Não esqueçam que ela adiciona ao salário do professor. Um Professor Titular com CD2 pode chegar a um salário bruto na faixa de R$ 25.000,00.
Temos outra excrescência, da qual as Universidades Federais estão livres, mas pulula nos Institutos Federais. A tal da RSC (Reconhecimento de Saberes e Competências), foi criada para atender aos professores mais velhos, que segundo o sindicato não puderam se qualificar, mas por um erro atende a todos.
Os professores ingressam e a primeira coisa que pedem é a RSC. Funciona assim, o professor comprava o cumprimento de alguns requisitos, pontua e recebe por uma titulação acima da que possui. Ou seja, tem graduação recebe como especialista, tem especialização recebe como mestre e tem mestrado recebe como doutor. Simples assim e, se considerarmos que os professores dos IF’s, mesmo os que só dão aula na graduação tem aposentadoria especial (aposentam com 25 anos as mulheres e 30 os homens) ficou barbada.
Conheço dezenas de professores que estavam afastados a dois ou três anos fazendo pós-graduação, com salário integral é claro, muitas vezes estudando na mesma cidade e fazendo pós no departamento onde trabalham, mas sem dar aulas e com um professor substituto contratado. Veio a RSC e eles desistiram pois já ganharam o aumento. Voltaram sem concluir o curso e ninguém lhes cobrou, na maioria das vezes, qualquer satisfação, quiçá que devolvessem o investimento do Governo. Uma literal excrescência!
Falando em pós-graduação ai está outro problema de nossa Universidade Pública a pós, com bolsas, pesquisas direcionadas, teses sobre o ‘sexo nos banheiros do metrô’, Centros para implantação do Comunismo no Brasil (sim havia um na UFOP poucos anos atrás), projetos de resistência ao Governo (mesmo que eleito democraticamente) antidemocrático, et caterva.
Posso dizer que a CAPES é a grande responsável pelo atraso da pesquisa e inovação no Brasil, mas isto é assunto para outro post. O que quero comentar é a endogamia das pós-graduações. Grosso modo, é o seguinte, o individuo é bolsista (quase escravo) de um professor desde a graduação, faz mestrado, doutorado e pós-doutorado, vivendo das bolsas, no mesmo departamento, as vezes sai para um sanduíche no exterior em Instituições com o vínculo forte com seu departamento. Para sobreviver a isto o indivíduo tem de se adaptar ou moldar ao pensamento dominante, repetindo-o. Depois, sem nunca ter trabalhado, sem nenhuma experiência fora da academia, sem saber o que é o mundo real, mas com um currículo acadêmico lindo, é premiado com uma vaga de professor. 
Óbvio que não vai mudar o pensamento dominante, óbvio que não vai fazer o tão necessário embate de ideias e, óbvio que vai permanecer naquela bolha repetindo que o mercado é perverso, que a indústria é ruim, que o capitalismo é bobo, mal e feio. E este indivíduo vai formar os professores de nossos filhos e os profissionais que nos atendem. Deus nos livre!
Por último não pensem que as ações dos últimos governos reduziram tanto o poder econômico e político dos Gestores da Universidades Públicas, o fez, mas ainda falta muito. Vejam como estes se digladiam nas campanhas pelas Reitorias e lutam pelos cargos.
Continuo afirmando...
A Universidade Pública é o Lixo da Política brasileira.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Compreendendo as coisas





Como todos vocês sabem tenho ficado recolhido de meus escritos, ante toda esta estupidez que reina no mundo em COVID. A imbecilidade humana aflorou com toda a força e, aqueles que se dizem mais: mais humanos, mais caridosos, mais conscientes, mais...enfim, se dizem mais que nós. E, em minha opinião são apenas mais imbecis e mais filhos da puta.
Então cansei de argumentar, cansei até de pensar. Continuo praticando minha resistência diária. Lendo os clássicos, estudando história e comprovando-a cíclica, tal qual nossa estupidez. E, é claro me informando com a Revista Oeste, com a Besta. Aliás O JBF é minha cota diária de informação e besteira, na medida certa. Também prático a resistência urbana, saindo de casa religiosamente e andando para ver gente e tentar achar vestígios de normalidade.
Mas este final de semana a falta de preparo de nossos gestores me irritou profundamente. Pelotas, onde vivo fica na metade sul do RS, fronteira com o Uruguai e próximo a fronteira com a Argentina. Já foi a cidade mais rica do estado. Já foi a segunda maior, hoje é a quarta maior cidade do RS e vai perder mais posições. Em termos de riqueza não fica entre as dez mais ricas. Muitos, aqui comparam a metade sul do RS, em termos de pobreza, com o sertão nordestino. É uma bobagem sem tamanho. Mas, sim a metade sul do RS, parte em que a maior cidade, a “capital” é pobre, muito pobre e empobrece a cada dia. Talvez seja a região mais pobre dos estados do Sul e Sudeste.
Mas por que isto? Por que esta região lotada de Universidades Públicas, de escolas federais e serviços públicos regride a olhos vistos?
Sempre tive noções do porquê, mas hoje pude ter certeza.
O Governador do Estado foi prefeito de Pelotas e sua Vice agora é a prefeita, partido PSDB. A macrorregião de Pelotas está dividida entre PT e PSDB, ou seja, estamos fodidos.
O confinamento, ou prisão, do COVID por aqui começou no modelo Dória, PSDB estúpido, fechando tudo. Depois quando percebeu que a coisa ia degringolar o Governador pulou do barco e começou a abrir o estado. A abertura veio com as bandeiras em 11 de maio, se o período de contágio é de 14 dias e podemos ter 14 dias com a pessoa doente, o pico, se fosse ocasionado pela abertura, deveria ter ocorrido por volta de 11 de junho, não ocorreu.
Então o Governo e a turma do fique em casa (a maioria formada por filhinhos de papai e por servidores públicos com seu salário em dia) começou a alertar que a coisa ia ficar feia, que teríamos problemas pelo inverno e, pasmem, resolveram fechar tudo, mesmo que os índices não sejam tão graves.
O RS tem hoje 1619 pacientes em UTI, com 2300 leitos, destes apenas 474 são COVID. O estado tem disponíveis 3412 respiradores e usa apenas 992, apenas 90 com pacientes COVID. E, pasmem, possui 6179 leitos para COVID fora de UTI, usando menos de 1000 leitos. Claro que é inverno, está frio, muito frio, na madrugada em Pelotas tem feito 2 ou 3 graus. Não há risco de sobrecarga. Por que fechar o Estado? Política ou burrice?
Pelotas foi a última cidade do Brasil, com mais de 200 mil habitantes (temos cerca de 400 mil habitantes) a ter mortos pelo COVID, durante muito tempo foi a única a não registrar mortes. Era óbvio que teria mortes, mesmo com a abertura do comércio tivemos apenas 5 mortes, todas com comorbidades e, hoje temos 31 leitos de UTI para COVID e apenas um ocupado.
Mesmo assim o sistema de cálculo das bandeiras do Governo do Estado, que tem problemas óbvios de concepção e que o Governo do estado não aceita rever, classificou a cidade como de alto risco. Coisa que não existe no estado!
Mais, para piorar temos o Reitor da Universidade Federal, que não é médico, é formado em educação física (sério) que se arvora e se diz epidemiologista (pela pós-graduação) e vive dando entrevistas no Fantástico e defendendo um lockdown total no país. Todo mundo sabe que será candidato, provavelmente pelo PSOL, ou algo parecido. Nas redes sociais rodam fotos dele e de sua assessoria, comemorando, em um restaurante, sem máscaras, comemorando aparecer na Globo. E o isolamento? Só para os outros. O Reitor de meu Instituto Federal não aceita discutir voltar as aulas. Meus colegas na maioria só discursam e não aceitam nem uma alternativa de voltar a trabalhar, nem EAD (não tem capacitação, dizem. Mas quando a EAD, via UAB ofereceu bolsas a maioria trabalhou com EAD). Os alunos não têm acesso a Internet, fizemos uma pesquisa, cerca de 85% tem acesso e querem voltar. Aí o discurso é não podemos excluir ninguém.
Bom neste caos, sexta-feira, como era esperado, o Governador do RS pôs Pelotas e outras regiões na bandeira vermelha. Tínhamos (as prefeituras) até domingo para recorrer. Caxias e as cidades da Serra, parte rica do Estado, com números muito mais “feios” que Pelotas e região, através de seus prefeitos foram para a imprensa. Contestaram o governador, criticaram e ameaçaram ir para a justiça. Resultado o Estado recuou e as cidades seguiram laranja e amarelo.
Pelotas e região resolveram não recorrer. Os prefeitos do PT e PSDB ouviram o povo? Não, ouviram os reitores, presos no paraíso de funcionalismo público que em casa, sem nada fazer recebe o salário e presos nos seus interesses políticos. Não recorreram, amanhã fecha tudo e azar da população, azar do comerciante, azar do comerciário, azar do autônomo. Perdemos tempo, dinheiro e emprego para a ideologia e para a idiotice.
Neste momento eu compreendo por que uma região com tantas oportunidades está decadente. Só por exemplo temos duas Instituições (Universidades e Institutos Federais) em Pelotas e outras duas diferentes em Rio Grande (a 40 Km) e mais uma em Bagé a 100 Km. Pelotas deve ter a segunda maior relação de funcionários públicos per capta do Brasil, só atrás de Brasília. E assim mesmo estamos literalmente lascados.
E o porquê está aí. Temos lideranças políticas e acadêmicas débeis, imbecilizadas, mergulhadas no próprio umbigo e nos próprios interesses, na maior parte das vezes espúrias.
Por isso estamos empobrecendo, por isso a região está quebrada. Perdemos cada vez mais oportunidades entregando nossas vidas a lideranças incompetentes e mal-intencionadas. Um bando de hipócritas e filhos da puta.
Isto foi bom para sacudir-me e me fazer ver o que estava em meus olhos, debaixo deles. Nossa região está periclitante e estas lideranças só fazem piorar.
O óbvio ululante mostra seus partidos majoritários: PT e PSDB, parafraseando o Berto: Bostas do mesmo penico.
Farei das tripas coração para dar-lhes o troco nas urnas. Aguardem!