domingo, 12 de julho de 2020

A UNIVERSIDADE PÚBLICA É O LIXO DA POLÍTICA – PARTE IV




            Continuando minhas reflexões a cerca da política suja que se faz dentro das Universidades Públicas brasileiras e, que é reflexo ou é refletida (creio que um pouco dos dois) na sociedade brasileira, especialmente nos nichos mais elitizados e/ou pseudo-intelctualizados, trago estas últimas reflexões.
Agora vejo, mesmo depois de 4 colunas escritas, que há muito mais o que falar. Na condição de docente são mais de 25 anos neste meio, mais o período de aluno, vi, presenciei e ouvi muita coisa. E, mea culpa, calei-me e fiquei indiferente para muito também.
Creio que também não posso ser apenas crítico. A crítica pela crítica é apenas o resultado de uma observação covarde e/ou rancorosa. Homens de verdade devem ser críticos e reflexivos, mas também devem ser, obrigatoriamente, propositivos. Portanto a partir da próxima quarta farei uma ou duas colunas com a minha reles opinião sobre o que precisaríamos fazer para mudar. Hoje nesta coluna final farei algumas ponderações e apontamentos pontuais, algumas vezes sem aprofundar discussões pois isto demandaria muita escrita, mas tenham certeza que foi tudo muito refletido.
Como já lhes afirmei a ‘endogamia acadêmica’ é um problema sério nas Universidades, pois faz com que apenas aqueles com pensamentos e ideologias semelhantes ao status quo dominante consigam vagas na academia. E aí desaparece qualquer possibilidade de embate de ideias, de mudança de paradigmas e de avanços. Os departamentos passam a ser ninhos de um pensamento doutrinário e centralizado e passam a ser reacionários a qualquer mudança, mesmo e, principalmente, quando esta vem de fora, do mercado e, aponta a necessidade de adequações e ajustes que desacomodam seus membros.
Também este fato de que o privilégio formativo, ou seja, ser bolsista do mesmo departamento ou professor da iniciação científica (na graduação) ao pós-doutorado, faz com que este novo professor seja bom escritor científico, cheio de publicações (o que segunda a CAPES faz dele um cientista, mesmo que jamais produza uma patente) e operador competente de rotinas de pesquisa e laboratório. Mas nunca teve uma experiência no mercado de trabalho, nunca esteve em um chão de fábrica.
Daí é fácil achar que o mercado é perverso, que o capitalismo é selvagem. Alguém que não conhece a realidade do mercado, da indústria e que recebe seu sustento, regiamente pago, pelo Estado pode tecer críticas e posicionar-se contra aquilo que desconhece a produção privada. O problema é que este indivíduo que nunca esteve em uma fábrica e só visitou uma obra no estágio é quem vai formar nossos futuros profissionais técnicos e engenheiros. 
O professor que só vai em escola pública em época de campanha eleitoral pedir voto para os ‘companheiros’ do partido, nunca põe o pé no barro e discute educação brasileira em congressos no exterior ou em hotéis na praia. Isto é claro, depois de 12 ou 15 anos, como bolsista, na Universidade, sendo bombardeado por Paulo Freire e outras pragas. Que a única coisa que fez além disto foram manifestações, invasões, protestos e quebra-quebra ao estilo blackblocks, sempre protegido pelo ‘direito’ de protestar, segundo eles e seus mentores, contra o fascismo e pela democracia (o conceito de democracia destas criaturas é muito diferente do meu, graças a Deus). Este indivíduo, depois de tudo isto, desta vasta experiência, é quem vai, sem nuca ter alfabetizado alguém, é quem vai formar os professores de nossos filhos e netos. Só podia dar em merda!
E, quem já participou de uma banca de concurso público sabe, há muita ‘discricionariedade’ nestes concursos, portanto se ninguém parar os pés dá para manipular. Até porque o candidato preferido tem ótimo currículo vitae só não teve experiências de vida, mas para que ter experiências? A Universidade lhe ensinou tudo o que precisa para viver na bolha. 
Este sistema também facilita aos que tem ‘oportunidades’, os famosos filhos de alguém, que por competência própria ou dos pais acabam entrando no ciclo das bolsas e daí seguem para a almejada e comemorada vaga de professor, consolidando autênticas dinastias.
Outra coisa preocupante é a DE, Dedicação Exclusiva, que é a remuneração para que o professor não tenha nenhuma outra atividade e dedique-se apenas à Universidade. Antigamente os professores faziam concursos sem DE e tinha de apresentar, periodicamente, um plano de trabalho. Depois os concursos passaram a ser já com a previsão de DE. Mais recentemente os concursos voltaram a ser sem DE, mas a pedido a mesma é concedida no momento do ingresso.
Vejam bem a DE, nas IFES (Instituições Federais de Ensino) representa cerca de 160% sobre o salário, sem a DE nossos vencimentos não seriam tão atrativos. Isto compele todos, ou praticamente todos os professores a solicitarem DE. Também tenho DE e não me considero demagogo. Procuro prestar consultoria através de projetos de extensão para agricultores familiares e pequenas indústrias, sem custo, isto me mantém próximo do mercado e sociedade. Também realizo, as minhas expensas, visitas técnicas em indústrias e na área produtiva com frequência.
Esta é uma realidade, que ainda bem, se reflete bastante na área agrária e de engenharias. Na medicina, odontologia e direito a DE não é tão frequente, mas os números vêm crescendo. Mas na área de humanas, onde é quase de 100%, a ojeriza ao mercado faz com os professores se isolem na bolha.
O que fazer, um pitaco apenas. Incorpore-se as DE’s (não pode, por lei, haver redução salarial), libere-se os professores ao mercado, cobre-se rigidamente o cumprimento dos compromissos na Universidade. E, conceda-se DE apenas aqueles bem mais antigos (Titulares p.e.), com produção relevante e sob condicionantes, como por exemplo, não poderem fazer greve. A DE pode ser também temporária e com a renovação condicionada a planos de trabalhos apresentados periodicamente e de interesse público.
Também pode-se liberar e incentivar a contratação de professores de tempo parcial, isto também abriria campo de trabalho, através destes professores já inseridos, para os alunos.
A questão da DE gera outro problema, a burla. Como era muito difícil dar em alguma coisa muitos professores tocam, mais ou menos disfarçadamente, outros negócios. Felizmente nos últimos 3 anos (de forma mais frequente) isto começou a mudar e quem burla a DE tem sido submetido as punições da lei.
Também podemos citar rapidamente a autonomia que as IFES têm para criar cursos, da livre vontade de seus professores e dirigentes. Sem nenhuma demanda da sociedade ou expectativa de empregos, criados a partir do desejo ou da pesquisa de pós-graduação de um professor. Presenciei a criação em uma Universidade, do Curso de graduação em Dança-Teatro, não é dança nem teatro, estes cursos já existiam. Dois professores voltaram do pós no exterior, brigaram com os demais e criaram seu próprio curso (tive de procurar no google para descobri o que é), tiveram vagas para professores, investimento de capital, material. Só não tiveram alunos.
Por que as IFES não podem se submeter a uma análise do MEC para criar seus cursos como as privadas têm de se submeter? Garanto que economizaríamos muito dinheiro.
Por último três pontos, apenas citados para reflexão: os Conselhos Superiores, as lideranças estudantis e os nichos de resistência política.
Os conselhos universitários são compostos majoritariamente por professores, servidores técnicos e alunos das IFES. Os representantes da Comunidade são poucos em geral de 2 a 5 e nomeados pela conveniência do Reitor que os convida ou indica (no caso de representante do MEC) entre seus pares políticos ou conhecidos. Nas Universidades são 70% de docentes e 30% do resto da comunidade. Nos Institutos Federais é pior pois a representação é paritária (1/3 professores, 1/3 técnicos e 1/3 alunos). Um verdadeiro absurdo que os alunos tenham o mesmo peso de professores, basta refletir que um indivíduo em formação e imatura tenha poder de influenciar a escola que forma. É surreal!
Mas, em suma, o que destaco aqui é o fato de que a sociedade, o mercado, o povo, a origem e destino dos alunos e dos futuros profissionais que dali egressarão. E, ao fim e ao cabo, para quem a Universidade deve destinar seu trabalho, pois é quem paga a enorme conta, não tem representação nos “Egrégios” Conselhos que as administram.
As representações estudantis são o que todos sabem. Nicho disputados por partidos de esquerda. Massa de manobra para apoiar protesto invasões, depredação do patrimônio e formação de militância. Além, é claro de espaço livre para maconha, outras drogas, sexo, suruba e putaria. Corrupção pode entrar no rol basta lembrarmos da CPI da UNE que nunca sai do papel e que deveria apurar os desvios da UNE no dinheiro público que receberam. 
Temos a ex-presidente da UNE Marianna Dias que não era mais estudante. Marianna passou no vestibular da Universidade Estadual da Bahia no segundo semestre de 2009 e desligou-se do curso no segundo semestre de 2015, sem concluí-lo (6 anos e não concluiu um curso de 4 anos).
E, se quiserem ter uma noção do que é a política estudantil nas Universidades Públicas vou citar apenas 3 ex-presidentes da UNE, que também estão inscritos na bela lista de apelidos da Odebrecht: José Serra, Lindembergh Farias (que não concluiu a graduação já que virou político do PT) e Orlando Silva. Preciso dizer mais?
Por último “Vossas Magnificências”, como pregava o protocolo de tratamento, suspenso por decreto do presidente Bolsonaro (ainda bem), Vossas Excrecências, quero dizer, magnificências, são os Reitores. Os Reitores eleitos e aboletados em seus cargos, apoiados por um grupo de frente, bem pago pelo erário, de interesseiros e representando interesses, quase sempre, político partidários.
Os Reitores, nesta sistemática, se encastelam nas Reitorias e defendem seus interesses e de seus patrocinadores. E qual é atônica disto. Defender os interesses do Grupo e que se foda a sociedade. Duvidam? Reflitam que as Reitorias da Universidade são os loci de resistência a políticas públicas amplamente debatidas pela sociedade e descritas na forma de lei como: as BNCC, o novo ensino médio ou os novos currículos de licenciaturas. Não importa se é bom para a sociedade, apenas importa é que politicamente são contra e usam para isto o argumento da autonomia universitária (outro ente teratológico criado por nossa constituição, que discutirei em outro post).
Novamente, duvidam? Busquem saber quantas aulas e atividades as Universidades Públicas e Institutos Federais próximos de vocês estão ministrando na pandemia. Verão que, com raras exceções, não há nenhuma atividade. Também questionem o que de relevante estão fazendo (fora os Hospitais Universitários, que não são administrados pelas Universidades e, sim, pela EBERSEH – MEC) na pandemia. Provavelmente produzindo alguns litros de álcool gel, fazendo algumas pesquisas científicas, a maioria para reforçar o pandemônio e o obituário. E, é claro, reforçar o discurso dos ‘terra-paradistas’, do ‘fique em casa’. Há louváveis exceções, sim, mas são minoria. Uma minoria que merece parabéns. Mas o que fazem nossas casas da ciência neste momento? Proselitismo político, na maioria das vezes.
Por isso urgem mudanças, ou vamos ficar patinando ad eternum, vou na próxima semana dar pitacos, sob o que minha vivência indica serem caminhos.
Mas reitero temos que mudar e, muito, nossa Universidade Pública para que deixe de ser: O LIXO DA POLÍTICA BRASILEIRA.

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