Não poderia deixar de comentar a
desastrosa Operação da Policia Federal intitulada ‘A carne é fraca’. Desastrosa
em todos os sentidos.
Desastrosa ao mostrar mais uma vez a
corrupção entranhada nas vísceras do serviço público. Desastrosa ao prejudicar
uma das únicas cadeias de negócios ainda saudável (até então) nesta era pós-PT.
Desastrosa pois nos demonstra que o Estado ao imiscuir-se em outras funções que
não são da sua competência acaba por deixar de fazer aquilo que é essencial e
lhe compete, a fiscalização e regulação dos mercados (da carne, do leite, do
que seja).
Desastrosa ao transformar em picadeiro
uma ação policial que deveria servir para expurgar o lixo deixado pelo PT e
seus autoproclamados ‘Campeões Nacionais’. A operação Carne Fraca foi um circo,
mas não foi nem será engraçada.
A polícia federal que até então vinha dando exemplos de integridade e competência na operação Lava-jato e congêneres
trocou os pés pelas mãos e fez besteira. A atuação na fase de ‘comunicação’ desta
operação foi algo sui generis. Idiossincrasias de um Brasil brasileiro!
Tanto
que o Delegado que levou a cabo a operação e a própria operação foram alvos de
críticas do Governo, de entidades ligadas ao agronegócio e de seus pares. A Fenapef
(Federação Nacional dos Policiais Federais) emitiu um posicionamento defendendo
o que chamou de "atuação irrepreensível" dos policiais. Mas criticou
duramente o delegado , que coordenou a operação.
Já Carlos Eduardo Sobral, presidente da Associação
Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), criticou a forma como a
Operação Carne Fraca foi divulgada na última sexta-feira. “Acho que houve um
equívoco de comunicação”, declarou.
Devemos
lembrar que as Instituições, entre elas a PF, são feitas de pessoas. E pessoas
são levadas pela vaidade, pela emoção e por interesses. Não serei leviano de
afirmar que foi o caso, mas que as reações mostram que houve no mínimo exagero
midiático e espetaculização do evento, elas mostram e houve.
A
entrevista dada pela Coordenação da Operação foi tecnicamente fraca, ridícula. Misturou alhos
com bugalhos, interpretou escutas telefônicas sem compreender o contexto em que
se inseriam. E se verídicos os relatos da Imprensa, baseou-se em apenas um
laudo. Um laudo em dois anos. Ridículo!
E ainda tentou dar uma desculpa
esfarrapada de sigilo. Vão contar outra. Se
um aluno sob minha orientação, na graduação, tentar validar resultados como
estes, baseado em um único laudo eu o reprovo na hora.
Manifesto-me
veementemente neste caso, pois sou Professor e Técnico da área há mais de 20 anos e
lecionei por quase 10 anos, no nível técnico e superior (de graduação e pós)
disciplinas ligadas à tecnologia de Carnes e derivados. Então me sinto
competente para afirmar a PF pisou na bola e feio.
E
qual o problema? Havia ou não fraude e funcionários corruptos? Sim e sim. Mas
são casos pontuais. O Brasil possui um dos Sistemas de Fiscalização Sanitária
mais eficiente do mundo. Tanto que exportamos (espero que ainda continuemos a
exportar) para os clientes mais rígidos e exigentes do mundo. E
mais, nenhuma das práticas mostradas traz riscos severos ao consumidor. São
fraudes e perda de qualidade tem de ser combatidas e duramente. Só.
Por exemplo
o tal de papelão que falaram, pelo contexto pode ser duas coisas: ou uma
referência a entrada de produto encaixotado na área limpa ou uma referência
jocosa a um aditivo, a carboximetilcelulose (muitas vezes apelidada de papelão
nas Indústrias), que é um aditivo permitido em embutidos (espessante) e outros
alimentos, embora a conversa dê a entender que poderia estar sendo usado acima
dos teores permitidos.
Já a cabeça de porco é insumo de indústria, não pode ser
usada em linguiças e produtos frescais, mas pode e é usada legalmente em
produtos cozidos como morcilhas, queijo de porco e mortadela. Atire uma pedra quem nunca
comeu uma orelha de porco em feijoada.
O
percentual de empresas atingido é mínimo, 21 frigoríficos num universo de quase
4500. Punam-se os fiscais envolvidos e punam-se estes frigoríficos. Mas preserve-se
a cadeia produtiva.
Faltou, também, a presença de técnicos do setor. Por que em dois anos a PF não procurou técnicos nas Universidades e em outras instituições de pesquisa? Técnicos que pudessem apoiar com laudos e auxiliar na interpretação das gravações. Pelo amor de Deus! Será que não havia técnicos e peritos da própria PF para apoiarem a operação? Por que não foram chamados?
Resposta óbvia porque não quiseram. Simplesmente, não quiseram apoiar-se em quem conhece. Por quais razões interesses e motivos, quiçá um dia saberemos.
Por algum motivo ainda obscuro a Coordenação da
Operação optou por fazer um espetáculo de circo. E a mídia ávida por sangue repercutiu sem
pensar nas consequências e sem dosar ou confirmar o conteúdo.
Ah,
mas não houve frade e corrupção? Sim, mas foi algo pontual. Pelas informações
difundidas ad nauseam pela imprensa,
são casos isolados até na produção dos próprios frigoríficos e sem lastro
técnico.
Mas e ai? Não devemos punir os culpados?
Sim. Devemos punir os culpados, duramente. Na forma da Lei, afastá-los,
processá-los com direito amplo a defesa e se comprovada a infração exonerar os
servidores públicos envolvidos. Recolher lotes, interditar empresas e multá-las
também.
Ninguém pode fraudar o consumidor. O problema
foi a tempestade no copo d’água. O tamanho do espetáculo que não condiz com a
realidade.
E o que isto nos leva? Nos leva a criar
um pânico onde não é necessário. Nos leva a perder receitas importantíssimas nesta crise advindas das
exportações. São empregos e mais empregos ameaçados.
É o riso dos esquerdopatas que se
regojizam com o imbróglio, para eles quanto pior melhor, então dane-se o
trabalhador. É o MST rindo do agronegócio. É a esquerda pondo a culpa no
capital.
É o PT, o PMDB e os políticos com o rabo preso na Lava-jato que usaram
este espetáculo idiota como prova do seu discurso de que a PF e o MPF fazem
espetáculo midiático da Lava-jato, o que não é verdade.
É a sorte daqueles que
competem internacionalmente conosco. Fecham-se empregos aqui, abrem-se empregos
e oportunidades lá fora, por incompetência nossa.
A 'carne fraca' deu aos corruptos o fato que eles usarão para
‘comprovar’ a espetaculização, aquilo que acusam diuturnamente a Lava-jato de fazer. Lula deve estar
rindo sozinho. Um ovo podre estraga todo o cesto. Um erro em uma operação
servirá para achincalharem todas as operações.
Sabemos que o agronegócio é vital ao
Brasil e quem suga o sangue do nosso campo e dos produtores rurais são os
parasitas do MST.
O capital gera emprego, faz vicejar a economia. É a ganância
de uns poucos indivíduos que faz a corrupção, não o capital. Capital não tem
vontade, Capital não tem conta na Suíça, nem sitio em Atibaia, são indivíduos que os possuem.
Mas esta operação desastrada deu munição a esta súcia. E eles vão deitar e rolar!
Foi MUITO BARULHO POR NADA! Só isso. Mas
nós, todos os brasileiros teremos de pagar a conta.
E estes senhores que coordenaram este
desastre (delegados, promotores, etc.) o fizeram motivados pelo que? Inveja? Vaidade? Incompetência?
Precipitação? Outros interesses? Ou um misto de tudo isto?
Não sei. Mas prestaram um desserviço a
nação.
O que posso dizer como técnico da área é
que lamento muito por tudo isto. Que nos sirva de lição. Que se punam os
culpados (inclusive os que protagonizaram esta patacoada). E vocês cidadãos,
pelo que foi posto até o momento, podem ficar tranquilos e comer seu churrasco
e seu bife.
A fraqueza não está na carne. A fraqueza
está nos erros e na precipitação.
A carne do Brasil, a carne do brasileiro
não é fraca!
Vamos lá, nos reerguer e dar a volta por
cima. De novo!
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EM
TEMPO: IMPERICIA?
Ao finalizar este texto chegou ao meu
conhecimento uma nota contundente da Associação Nacional dos Peritos Criminais
Federais, que vai ao encontro do destacamos nas mal traçadas linhas
acima. Vejam o que dizem os nossos peritos da PF:
“[...]3.
Diante do exposto, a APCF tem o dever de esclarecer publicamente que as
afirmações relativas ao dano agudo à saúde pública, divulgadas por ocasião da
deflagração da “Operação Carne Fraca”, não
se encontram lastreadas pelo trabalho científico dos Peritos Criminais da
Polícia Federal, sendo que apenas um Laudo Pericial da Corporação,
hábil a avaliar tal risco, foi demandado durante os trabalhos de investigação, sem que se chegasse, no entanto, a essa
conclusão.[...] Grifo nosso.”.
Vale a pena ler todo a
nota da APCF no link:
http://apcf.org.br/Noticias/AgenciaAPCF/tabid/341/post/peritos-da-lava-jato-fizeram-1132-laudos-em-tr-s-anos/Default.aspx
http://apcf.org.br/Noticias/AgenciaAPCF/tabid/341/post/peritos-da-lava-jato-fizeram-1132-laudos-em-tr-s-anos/Default.aspx
Ora a quais interesses
a Coordenação da operação ‘Carne fraca’ estava atendendo? Aos do Brasil e
dos brasileiros certamente não.
Será que a conduta
destes servidores não se enquadra como ato infracional de desídia? Negligência,
imprudência e imperícia são atos infracionais culposos ante
os quais o servidor público deve responder.
Que se afastem estes servidores,
que sejam submetidos a uma sindicância e que tenham, é óbvio, o direito da
ampla defesa resguardado.
E após este procedimento que sejam ou não (dependendo do
resultado da sindicância) responsabilizados por seus atos.
Mas urge uma atitude dos superiores. Antes que ações como esta ponham a perder tudo que a Lava-jato e operações congêneres
construíram nestes 3 anos de esforços.
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