terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A Universidade Pública é o Lixo da Política Parte I



            Cada vez que penso no futuro da política no Brasil acomete-me uma grande desesperança, quer no presente quer no futuro. Também com nossos políticos só poderias perder toda a esperança, dirão alguns. 
             Não, não é por isso. Se fossem só os políticos e o sistema partidário, o choque de ações como a Lava-jato somado as manifestações de rua acabariam por surtir efeito, resultando em uma grande profilaxia que expurgaria as hordas de políticos corruptos, corruptores e seus asseclas do poder secular quer seja em Brasília quer seja nos mais distantes rincões da Nação.
            Minha desesperança vem de algo mais profundo, de minha alma e da constatação crítica de que a situação política brasileira é algo mais grave e duradouro.
           Primeiro se olharmos, despidos de lentes ideológicas ou da máscara do personalismo, veremos que desde nosso Congresso Nacional a mais singela Câmara Municipal, os políticos que ali habitam representam de forma precisa a sociedade brasileira, com suas virtudes e mazelas.
            Estão ali os radicais, os representantes das diversas fés (e aqueles que delas se aproveitam), os espertalhões, os sinceros, os mentirosos, os semi-analfabetos e os pseudo-intelectuais. Nossos políticos são um retrato nu e cru de nossa sociedade. Os corruptos que ali estão representam, sim, o cidadão que vocifera contra estes mesmos corruptos, mas não se envergonha de furar a fila, de jogar lixo no chão ou de dar uma ‘cervejinha’ ao guarda. Admitamos ou não a política brasileira espelha a alma de nossa sociedade.
            Até ai podemos antever algumas saídas. Se colocarmos o dedo na ferida, fizermos o mea culpa, reconhecermos a verdadeira face de nossa sociedade talvez tenhamos um caminho para salvar nossa política e consequentemente nossa Pátria que ainda não é Nação.
            Vejam não estou (e estou também) criticando o indivíduo, o brasileiro e, sim o reflexo de suas atitudes na sociedade que o espelha. Política desde a Grécia antiga é a arte de viver na pólis (cidade), ou seja, é a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados. É por óbvio essencial a vida em sociedade e se espelha exatamente na sociedade que a acolhe. Os políticos são os atores, os entes humanos (ou animais, dirão outros) que gerenciam a pólis, portanto são reflexos dela (sociedade), até porque são escolhidos (eleitos) por esta sociedade.
            Esta é uma das razões de minhas inquietações, pois se a política reflete a sociedade como um espelho, para mudarmos a política temos de mudar a sociedade. Isto vem ocorrendo no Brasil e de forma não tão lenta, mas ainda é longo o caminho a ser percorrido e um dos fatores que podem acelerar esta transformação é a educação e aqui mora a principal razão de minha desesperança: a Universidade brasileira, especialmente a Universidade pública brasileira.
            Por que? Porque devemos considerar que a política em sociedades mais ou menos democráticas, como a nossa, é feita pela eleição de prioridades e vontades de uma maioria. A vontade da maioria é o reflexo da média das vontades dos indivíduos que nela vivem, portanto pode ser considerada como medíocre. A mediocridade não é um defeito ou xingamento apenas a constatação de que está dentro da média, que não é algo que seja um disparate aos olhos da grande maioria. 
                  Esta é uma característica da democracia, que pode ser vista como virtude mas que também é seu grande defeito, ou seja, a democracia como regime é medíocre. Mas como disse Winston Churchill (em 1947) “a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todos os outros já experimentados ao longo da história, talvez no futuro possamos ter outro regime melhor, mas por hoje é o que nos resta e, isto não me impede de considerá-la, neste ínterim, medíocre.
                        Bom então para alterarmos o status quo de nossa política é preciso melhorar nossa democracia, qualificando-a, elevando-a acima da média, suplantando a mediocridade. E como se consegue isto? Com educação, com formação crítica e qualificada, com a maturação de uma massa pensante que fomentará a mudança.
                        E este é o busílis da cizânia. Onde estão os loci desta formação/transformação? Estão nas Universidades brasileiras, especialmente nas Universidade públicas. Mas nossas Universidades públicas estão tomadas de profissionais medíocres (agora no mau sentido), politiqueiros, acomodados, na sua maioria sonhadores utopistas da esquerda falida. Nossas Universidades foram totalmente aparelhadas, tornaram-se reféns de sindicatos de servidores, são corporativas e em quase nada servem para atender os anseios da sociedade.
                        Como esperar que a fagulha da transformação saia de um ambiente contaminado por ideias e ideais ultrapassados e rançosos, como esperar que aparelhos corporativistas, do que há de mais torpe na política brasileira, possam fomentar a transformação do país, acabando exatamente com aquilo de que se alimenta.
Difícil, muito difícil. Na Universidade pública brasileira se faz pouca análise de conjuntura, pouco se propõe, menos ainda se executa, mas se faz muito barulho, muita crítica e principalmente muita política ou melhor muita politicagem. O ambiente da Universidade publica virou um cadinho onde funde-se e prolifera o que há de mais torpe na nossa política. 
Não há que se estranhar pois foi este o local da gênese de boa parte dos partidos de esquerda e centro-esquerda no Brasil. O PT e o PSDB (sim, meus caros, embora os petistas afirmem o contrário, social democracia é um pensamento de centro esquerda, comentarei isto em outra postagem) se originaram na USP. PSOL, Rede e PSTU nasceram a partir de ações em Universidades e Institutos Federais e nos sindicatos a eles ligados. O PC do B sobrevive nas Faculdades de Ciências Humanas e nas Uniões Estudantis Brasil afora.
Por isso afirmo que a podre política brasileira mais do que refletir parte de nossa sociedade foi idealizada e gestada nos espaço onde deveria ser modificada, pensada, criticada e melhorada, a Universidade pública.
O jogo político neste espaço é ainda mais duro e mais sujo do que nos legislativos e executivos do Brasil. Na política Universitária se joga duro e sujo pois os valores envolvidos são astronômicos, a possibilidade de cargos e ganhos é enorme. Dali saem parte de nossas lideranças já batizadas a ferro e fogo nas práticas que levarão a seus Gabinetes.
Hoje se observarmos além do aparelhamento quase total e de uma política de eliminação do pensamento contrário, as gestões das Universidades públicas foram tomadas de assalto pelos partidos políticos de esquerda. O PC do B controla a UNE e o movimento estudantil, O PT (que vem perdendo espaço), PSB, PSOL (que vem crescendo neste espaço), PSTU e Rede dominam as reitorias e gestões. 
Vemos ai que as esperanças de uma Universidade transformadora desaparecem na fumaça fétida que advém dos gabinetes universitários aparelhados, medíocres e reacionários (sim a esquerda pode e é reacionária, assunto para outra postagem).
Por isso minha desesperança cresce exponencialmente, pois não vejo saída próxima para a situação atual. Pelo que me concerne o ambiente Universitário não é reflexo das políticas públicas e dos políticos brasileiros, é ele (o ambiente universitário) que é refletido naqueles. Foi na Universidade pública que originou-se e que alimenta-se o pensamento político brasileiro. E, é nessa sujeira que se faz a política, ou melhor politicagem,  da Universidade pública brasileira. Comentar tudo o que penso e as possíveis soluções para a política universitária no Brasil é muito para um texto apenas, por isso continuarei minhas elucubrações na próxima postagem.
Creio que só uma reflexão dura e sincera, doa a quem doer, com a admissão daquelas verdades que ninguém quer admitir poderá dar-nos alguma esperança de futuro. Para alguém que como eu foi professor de Instituição Federal toda a vida é frustrante admitir certas verdades e, mais ainda, é doloroso aceitar nossa impotência em tentar transformar as coisas.
Portanto encerro estes pensamentos com uma afirmação que corroí minh’alma e amargura meu coração só pelo fato de ter de proferi-la, mas que é fundamental à minhas esperanças no futuro. Como diziam os romanos veritatis simplex oratio (a verdade dispensa enfeites), desta feita concluo que:
            A Universidade Pública é o Lixo da Política brasileira.


                                                                                  Segue...

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