[...] Por que estou desesperadamente desesperançoso
com a capacidade crítica de nossa Universidade Pública? Porque compreendo que
ela é o loci da transformação social
e esta transformação pressupõe debate, embate, discordância, fluxo e
contra-fluxo de ideias. Só que na Universidade pública brasileira, faz muito
tempo, desapareceu a diversidade de pensamento. Há apenas uma unicidade do pensamento ideologizado de esquerda, repetido como um mantra em todos os
recantos da Universidade e qualquer divergência mínima deste pensamento é
combatida até a destruição. A patrulha ideológica é real e cruel no ambiente
universitário, arrasa carreiras, amedronta e agride.
Mas o buraco é mais embaixo ainda. Por que se faz política nas
Universidades públicas? Simples, dinheiro e poder. Uma Universidade ou
Instituto Federal têm um orçamento anual (incluídas as folhas de pagamento) que
suplanta a grande maioria dos municípios de médio porte brasileiros. Um Reitor
em uma Universidade pública tem centenas de cargos de confiança para nomear,
muito mais que os prefeitos dos municípios que as abrigam.
São cargos que podem ser
usados para nomear correligionários de fora da Universidade ou pessoal da
própria Universidade (na maioria dos casos) e os valores das CC’s somam-se aos
salários dos servidores variando entre R$ 600,00 a mais de R$ 7000,00 (há
funções de menor valor mas a maioria se situa nesta faixa, no caso das
Universidades e Institutos Federais).
Há também o poder de indicar pessoas para Comitês e Conselhos, a
destinação de bolsas, de verbas de pesquisa e extensão, diárias, viagens
nacionais e internacionais e uma série benesses para os mais próximos e
apaniguados do poder ‘reitoral’. Por exemplo qualquer Universidade e/ou
Instituto Federal tem em suas contas pelo menos uma centena de telefones
celulares ditos institucionais, com as contas liberadas e pagas pelo povo, que
são distribuídos para aqueles que comungam das benesses e da proximidade do gestor.
É muito poder e dinheiro e isto cresceu mais ainda durante os Governos do
PT com a expansão Universitária. Esta expansão foi feita de forma politiqueira e não
técnica e, ao invés de qualificar os cursos (muitas vezes precários) já
existentes, passaram a abrir campi nos
mais diversos rincões do país.
Na maioria das vezes a expansão se deu através
de escolhas políticas, ou seja, o prefeito ou um deputado da região fazia parte
de partidos da base ou tinha influência suficiente e pronto a cidade ganhava um
campus de Universidade ou Instituto
Federal, as vezes dos dois.
Há municípios em são ofertadas mais vagas de
ingresso no ensino superior do que egressos do ensino médio, anualmente. Dinheiro
jogado fora e, em municípios que faltam estruturas mínimas para o ensino básico. Pura
politicagem.
Mas os partidos políticos de esquerda, que já dominavam o ambiente
universitário, aproveitaram para aparelharem ainda mais as Universidades
promovendo mais um expurgo das ideias contrárias.
O grande poder econômico e estratégico dos reitores e da gestão nas
Universidades e Institutos públicos (especialmente federais) fez com que
partidos como PSOL, PSTU, PSB, PC do B, PT e Rede passassem a disputar quase a
tapa estes cargos. Fazendo qualquer coisa pelo poder gestor nas Universidades, tornaram ainda mais suja a prática política em nossa academia.
A eleição para Reitor, além de encerrar um poder bastante considerável no
cargo, é realizada em um ambiente em que há grande hegemonia ideológica (apesar
da grande disparidade de interesses individuais e de grupo) mas um ambiente
restrito.
Praticamente, além da disputa entre os candidatos a única divergência
é sobre o tipo de voto Universal (o voto tem peso individual) ou Paritário (cada
grupo professores, técnicos e alunos tem 1/3 do peso final nas eleições). O que
é um absurdo pois quem paga a conta, os salários e a ineficiência destas
instituições é a sociedade e ela, a sociedade, é solenemente ignorada e
desprezada no processo de escolha dos gestores desta montanha de dinheiro
público.
Lançada a eleição é a política do vale-tudo. Promessas, mesmo ilegais,
viagens, cargos, bolsas, benesses. Pode-se tudo nesta disputa por poder, em um
ambiente restrito, com pequeno número de eleitores e totalmente alijado dos
sentimentos e necessidades da sociedade que paga a conta, mas que vai
glorificar o vencedor com um poder econômico e político imenso.
Campo fértil dos partidos de esquerda, estes transformaram a política
universitária em um fac-simile de
suas ideologias torpes e conseguiram criar um laboratório de testes para uma
política ainda mais suja do que aquela que é praticada pelos executivos e
legislativos Brasil afora.
Como esperar que desse ambiente saiam ou sejam formados aqueles livre
pensadores que vão romper com o ciclo vicioso da política brasileira,
nivelando por cima nossa medíocre democracia? É extremamente complicado
esperar que aqueles que comungam e vivenciam este ambiente possam ser capazes
de fomentar a mudança.
É preciso 'desesquerdizar' a Universidade brasileira. É preciso mudar o
acesso a Carreira docente (com concursos e lotações centralizados no MEC, evitando que o ingresso de novos docentes seja direcionado e atenda critérios
ideológicos tão danosos ao ambiente acadêmico, mas extremamente comuns nas
Universidades públicas), fazendo valer o esquecido principio constitucional da
impessoalidade.
Precisamos democratizar os Conselhos Universitários, órgãos
máximos da Gestão Universitária e ao qual a sociedade não tem o mínimo acesso. São formados endogamicamente pela comunidade universitária, com viés político e
não técnico. Chegam ao extremo de poderem decidir os próprios salários (dos
servidores da Universidade) nas Universidade Estaduais de São Paulo. É um sonho
um emprego onde um grupo de funcionários decide o salário, deles e dos colegas.
E, principalmente, precisamos mudar a forma de escolha dos gestores passando de eleições
para seleções públicas, em todos os principais cargos de gestão. Que escolham-se os mais
capazes, independente de grupos políticos e/ou ideológicos. Que aprendam a trabalhar de
forma colegiada superando suas diferenças.
Parece um sonho distante, mas vejo, com grande entusiasmo, surgirem aqui e
acolá grupos de resistência que contestam e desafiam o status quo do ‘aparelho
esquerdista’ universitário. Em geral são alunos, ainda tímidos, mas que aos
poucos vêm recebendo o apoio de professores e demais servidores.
Precisamos reagir, precisamos urgentemente desaparelhar e 'desequerdizar' as Universidades e Institutos de educação superior públicos do Brasil.
Precisamos limpar o fétido ambiente político que instalou-se e gerencia o lixo em que se
transformou a política universitária no país. Só assim daremos o primeiro passo
na moralização de toda a política brasileira.
Mas para romper o ciclo vicioso temos que começar rompendo o aparelho de
gênese política podre que instalou-se nas nossas Universidades públicas.
Comecemos e rápido. Há muito que fazer.
Lembremo-nos: A Universidade
Pública é o Lixo da Política brasileira.
Segue...
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