terça-feira, 4 de julho de 2017

Uma justa homenagem!


À todos que porventura tenham estranhado o sumiço deste colunista justifico o motivo a seguir. Àqueles que comemoraram o sumiço da coluna informo que infelizmente terão de me aturar mais um tempo.
Na semana passada fomos surpreendidos pela doença de meu pai. Algo que pegou a todos de surpresa, pois papai parecia um touro de saudável e parecia-nos, até então, apto a cumprir uma promessa que repetia sempre e a todos: comemorar seu centenário em uma festa num puteiro.
É meu velho faltaram-te alguns anos! 
Seu Antonio Fernando ou Toninho para a família ou ainda Tatu para os amigos, viveu uma vida justa. A alcunha de Tatu ganhou por ser um caçador inveterado destes animais, mas dizia a todos que era porque ele gostava de viver enfiado num buraco, o que também era verdade.
Trabalhador, honesto e pobre, batalhou para criar e dar aos filhos o melhor que pode. Serviu-nos de exemplo e esteio, o amigo nas horas ruins, o homem que dava conselhos e esporros sempre que necessário.
Meu pai era o que aqui no sul chamamos de índio véio ou nego véio, ou seja, um gauchão típico. Daqueles que usava bombacha quase sempre, não passava sem o mate de manhã e antes do almoço, um trago de quando em vez. Pé de valsa gostava de dançar uma vanera e uma milonga.
Viveu a vida na cidade sempre sonhando em voltar ao campo onde nasceu. Não deu tempo. Homem sério trazia no semblante as marcas da vida e da dureza que é viver, mas sem amarguras. Talvez um ou outro dissabor vindo de mágoas nascidas no seio de sua família, nada mais que isso.
Ao lembrar dele vem a minha mente uma letra de música da cantora nativista Berenice Azambuja:
[...]Churrasco, bom chimarrão, fandango, trago e mulher
É disso que o velho gosta
É isto que o velho quer[...]
Era disso que o Seu Tatu gostava, era isso que seu Tatu queria. 
Adoeceu e me chamou. O trouxe para minha casa e no sábado passado escreveu a coluna do JBF comigo. Pediu-me para levá-lo ao médico, levei. Nada grave apenas uma crise nervosa, foi autorizado a viajar, queria ir até minha irmã que mora em uma cidade a 200 km de Pelotas.
O levei até lá. Parecia que queria despedir-se de todos que amava. Dormiu uma noite em minha casa comigo e meu filho, dormiu uma noite em minha irmã com ela e meu sobrinho. Na segunda passou mal, foi internado. Na terça ao fazer alguns exames infartou e fez a passagem.
Me havia dito que estava cansado e queria descansar em paz. Descansou, foi-se sereno e tranquilo como sempre viveu. 
Mas não sem antes visitar todos os amigos que cativou. Descobrimos que havia feito isto nas duas últimas semanas quando também deixou seus negócios e contas mais ou menos em ordem. Não gostava de incomodar ninguém, nem mesmo na morte.
Sei que tivemos uma semana pesada na Terrae brasilis, há muito que comentar e criticar, farei um comentário resumido na próxima postagem amanhã. Não vou macular esta homenagem a meu querido pai citando estas pústulas políticas que infectam nossa pátria.
A meu pai digo que ficará a saudade, o amor e o exemplo que nos destes. Te deixo uma oração ou irradiação da lavar do racionalismo cristão:
Ao Astral Superior
Grande Foco! Força Criadora!
Nós sabemos que as leis que regem o Universo são naturais e imutáveis, e a elas tudo está sujeito.
Sabemos também que é pelo estudo, raciocínio e crescimento, derivado da luta contra os maus hábitos e as imperfeições, que o espírito se esclarece e alcança maior evolução.
Certos do que nos cabe fazer, e pondo em ação o nosso livre-arbítrio para o bem, irradiamos pensamentos aos Espíritos Superiores para que eles nos envolvam na sua luz e fluidos, fortificando-nos para o cumprimento dos nossos deveres.”
Rompeu-se a coluna mas ficou a obra! A árvore frutificou e seus frutos garantirão sua continuidade. Do homem que fostes ficou a memória, o exemplo e o amor que destes à todos nós!

Descanse em paz pai!

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