À
todos que porventura tenham estranhado o sumiço deste colunista justifico o motivo
a seguir. Àqueles que comemoraram o sumiço da coluna informo que infelizmente
terão de me aturar mais um tempo.
Na
semana passada fomos surpreendidos pela doença de meu pai. Algo que pegou a
todos de surpresa, pois papai parecia um touro de saudável e parecia-nos, até
então, apto a cumprir uma promessa que repetia sempre e a todos: comemorar seu
centenário em uma festa num puteiro.
É
meu velho faltaram-te alguns anos!
Seu Antonio Fernando ou Toninho para a família
ou ainda Tatu para os amigos, viveu uma vida justa. A alcunha de Tatu ganhou por
ser um caçador inveterado destes animais, mas dizia a todos que era porque ele
gostava de viver enfiado num buraco, o que também era verdade.
Trabalhador,
honesto e pobre, batalhou para criar e dar aos filhos o melhor que pode.
Serviu-nos de exemplo e esteio, o amigo nas horas ruins, o homem que dava
conselhos e esporros sempre que necessário.
Meu
pai era o que aqui no sul chamamos de índio
véio ou nego véio, ou seja, um
gauchão típico. Daqueles que usava bombacha quase sempre, não passava sem o
mate de manhã e antes do almoço, um trago de quando em vez. Pé de valsa gostava
de dançar uma vanera e uma milonga.
Viveu
a vida na cidade sempre sonhando em voltar ao campo onde nasceu. Não deu tempo.
Homem sério trazia no semblante as marcas da vida e da dureza que é viver, mas
sem amarguras. Talvez um ou outro dissabor vindo de mágoas nascidas no seio de
sua família, nada mais que isso.
Ao
lembrar dele vem a minha mente uma letra de música da cantora nativista
Berenice Azambuja:
[...]Churrasco, bom chimarrão,
fandango, trago e mulher
É disso que o velho gosta
É isto que o velho quer[...]
Era
disso que o Seu Tatu gostava, era isso que seu Tatu queria.
Adoeceu e me
chamou. O trouxe para minha casa e no sábado passado escreveu a coluna do JBF
comigo. Pediu-me para levá-lo ao médico, levei. Nada grave apenas uma crise
nervosa, foi autorizado a viajar, queria ir até minha irmã que mora em uma
cidade a 200 km de Pelotas.
O
levei até lá. Parecia que queria despedir-se de todos que amava. Dormiu uma
noite em minha casa comigo e meu filho, dormiu uma noite em minha irmã com ela
e meu sobrinho. Na segunda passou mal, foi internado. Na terça ao fazer alguns
exames infartou e fez a passagem.
Me
havia dito que estava cansado e queria descansar em paz. Descansou, foi-se
sereno e tranquilo como sempre viveu.
Mas não sem antes visitar todos os amigos
que cativou. Descobrimos que havia feito isto nas duas últimas semanas quando
também deixou seus negócios e contas mais ou menos em ordem. Não gostava de
incomodar ninguém, nem mesmo na morte.
Sei
que tivemos uma semana pesada na Terrae
brasilis, há muito que comentar e criticar, farei um comentário resumido na
próxima postagem amanhã. Não vou macular esta homenagem a meu querido pai
citando estas pústulas políticas que infectam nossa pátria.
A
meu pai digo que ficará a saudade, o amor e o exemplo que nos destes. Te deixo
uma oração ou irradiação da lavar do racionalismo cristão:
“Ao
Astral Superior
Grande
Foco! Força Criadora!
Nós
sabemos que as leis que regem o Universo são naturais e imutáveis, e a elas
tudo está sujeito.
Sabemos
também que é pelo estudo, raciocínio e crescimento, derivado da luta contra os
maus hábitos e as imperfeições, que o espírito se esclarece e alcança maior
evolução.
Certos
do que nos cabe fazer, e pondo em ação o nosso livre-arbítrio para o bem, irradiamos
pensamentos aos Espíritos Superiores para que eles nos envolvam na sua luz e
fluidos, fortificando-nos para o cumprimento dos nossos deveres.”
Rompeu-se
a coluna mas ficou a obra! A árvore frutificou e seus frutos garantirão sua
continuidade. Do homem que fostes ficou a memória, o exemplo e o amor que destes
à todos nós!
Descanse
em paz pai!
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